
NOVAS ABORDAGENS
As transformações que os documentários e seus processos de produção sofreram durante os anos

Com o passar dos anos houveram mudanças na forma de realização dos documentários. A democratização do gênero e a exploração de um olhar mais experimental à sua estrutura, originam novos questionamentos sobre as definições pré-estabelecidas deste tipo de obra.
Entenderemos quais são os fatores que desencadearam essas transformações e como elas afetaram o processo de desenvolvimento, conceitos e definições por trás dos documentários.
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Cada documentário é único, e assim como o produto final, o processo de criação também é singular, se diferenciando na ordem dos processos de realização, podendo até desconsiderar a execução de uma das etapas.
Comentando sobre o assunto, o diretor do documentário "O Barato de Iacanga", Thiago Mattar, relata que não existe um tempo padrão para produzir um filme, cada processo necessita de uma duração específica.
De acordo com o diretor e roteirista, alguns filmes demoram mais de 5 anos para serem feitos, já outros, em um pouco mais de 1 ano estão prontos. A disponibilidade de verba contribui para que o período seja encurtado, contratando equipes para auxiliar e distribuir as ações e tarefas, por isso as obras realizadas por grandes produtoras e empresas de streaming levam um tempo relativamente menor em comparação às produtoras e pequenas e independentes.






A partir da popularização e desenvolvimento das tecnologias, houve a democratização da produção de filmes, procedente do aumento de possibilidades e oportunidades de criação por mais pessoas.
Com isso, manifestou-se uma extensão da fórmula de requisitos que caracteriza um documentário. De acordo com o diretor e escritor, Piero Sbragia, as experimentações também se originam da integração de pessoas interessadas em filmes de ficção, atraídas pelo baixo valor requisitado para fazer documentários.
Piero adiciona que estes experimentos são benéficos para a ruptura das regras rígidas e restritas que padronizam os documentários, caracterizado pelos elementos das obras de Eduardo Coutinho.


A popularização e desenvolvimento das tecnologias possibilitou a democratização da produção de filmes
piero sbragia
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FACTUAL OU NaO-FACTUAL
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Além da amplitude da maneira de construção narrativa dos documentários, outra consequência das experimentação e da integração de gêneros é a mistura entre elementos factuais e não-factuais
Piero Sbragia acentua que os documentários possuem a missão de retratar a realidade, entretanto as produções atuais estão cada vez mais tendenciosas à cruzarem essa linha. O escritor explica que esta também se trata de estratégias estéticas, utilizando táticas da ficção, para tornar as obras mais atrativas ao público.
Exemplificando sua fala, Piero Sbragia, cita a série documental "Xuxa, o Documentário", lançada pela GloboPlay, em julho de 2023. O professor universitário descreve a cena de encontro entre Xuxa e Marlene Mattos como uma cena orquestrada para ser exibida.
Este é configurado como um momento não-factual pela criação de um cenário propício a captura de comportamentos inorgânicos entre os personagens, como em um set de filmagens do gênero ficção.
Mesmo com a existência dessa dualidade, Piero Sbragia acredita que ambos conseguem coexistir em harmonia dentro das produções, sua única ressalva é que haja o compreendimento do público de que nem tudo é captado organicamente.
piero sbragia
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Complementando o tema, a diretora e atriz, Ana Petta, reforça a não existência de uma verdade única e pura. Ela acredita que a subjetividade das pessoas por trás das câmeras sempre se transfere às obras que produzem.
A diretora também evidencia a presença dos tipos de documentários que se apropriam de um viés artístico e poético, exibindo uma combinação de histórias factuais transmitidas por um estilo de narrativa dominado por aspectos ficcionais e por vezes abstratos.

Ana petta
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DIFERENcAS NO PROCESSO DE PRODUcaO
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Abordando os aspectos que diferenciam os gêneros ficção e documentário, a diretora do documentário "Quando Falta o Ar" e atriz da série "Unidade Básica", Ana Petta, relata as diferenças nos processos de filmagens entre eles.
Com o final das gravações da terceira temporada da série, Ana pode atuar no papel de uma profissional de saúde do SUS durante a pandemia, o mesmo cenário retratado em seu documentário.
Comparando ambos, a diretora pontua a distinção entre a presença de personagens fictícios e pessoas reais, além da abertura para o imaginário na ficção, enquanto os documentários são presos à narrativas inexoráveis.
Entretanto, a principal diferença, de acordo com Ana, é o fator espontâneo e inesperado exclusivo dos documentários, contrapondo a natureza controlada e previamente planejada da ficção.

ana petta
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Com suas transformações e novas abordagens surgindo, o futuro dos documentários se torna cada vez mais difícil de ser definido. A esperança de que o mercado brasileiro se desenvolva, aprimore, fortaleça e expanda é unânime entre todos que participam e apreciam a indústria audiovisual.
Questionado sobre suas previsões para o futuro do gênero, Piero Sbragia acredita que a produção de documentários seriados pode se tornar o novo foco do mercado. De acordo com o autor, essa seria uma teoria baseada na análise dos tipos de produções do gênero que os streamings, essenciais para a divulgação dos documentários, estão adicionando em seus catálogos.
A diretora, Ana Petta, participou do júri do festival É Tudo Verdade 2023. Com sua experiência, assistindo as novas produções brasileiras e internacionais, a diretora explica que a diversidade de estilos que presenciou durante o evento é o que permanecerá no mercado futuramente.
Ana espera que a liberdade presente no fazer documentário, que advém de sua característica pouco comercial, possa perdurar, e assim como sua pluralidade de estilos e possibilidades.