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NOVAS ABORDAGENS

As transformações que os documentários e seus processos de produção sofreram durante os anos

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Com o passar dos anos houveram mudanças na forma de realização dos documentários. A democratização do gênero e a exploração de um olhar mais experimental à sua estrutura, originam novos questionamentos sobre as definições pré-estabelecidas deste tipo de obra.

 

Entenderemos quais são os fatores que desencadearam essas transformações e como elas afetaram o processo de desenvolvimento, conceitos e definições por trás dos documentários. 

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Cada documentário é único, e assim como o produto final, o processo de criação também é singular, se diferenciando na ordem dos processos de realização, podendo até desconsiderar a execução de uma das etapas.

 

Comentando sobre o assunto, o diretor do documentário "O Barato de Iacanga", Thiago Mattar, relata que não existe um tempo padrão para produzir um filme, cada processo necessita de uma duração específica. 

 

De acordo com o diretor e roteirista, alguns filmes demoram mais de 5 anos para serem feitos, já outros, em um pouco mais de 1 ano estão prontos. A disponibilidade de verba contribui para que o período seja encurtado, contratando equipes para auxiliar e distribuir as ações e tarefas, por isso as obras realizadas por grandes produtoras e empresas de streaming levam um tempo relativamente menor em comparação às produtoras e pequenas e independentes.

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CICLO DE REALIZAcaO
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Pre-producao: que engloba o processo de pesquisas sobre o tema, imagens, vídeos e personagens para a construção da narrativa do filme.

 

Producao: realização das filmagens, com depoimentos e capturas de vídeo que irão compor o produto final.

 

Pre-producao: montagem da obra a partir dos vídeos, fotos e imagens coletadas até o momento
 

O diretor afirma que o processo de realização acaba quando o criador "desiste" da obra. Esta reflexão decorre da incessante busca pelo perfeccionismo, que é inalcançável, logo, a obra apenas é concluída quando deixamos de tentar aprimorá-la.

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Existem casos em que a etapa de planejamento e realização de um roteiro não são realizadas. A diretora do documentário "Quando Falta o Ar", Ana Petta, relata que é essencial que o documentarista não se atenha ferrenhamente a um planejamento. Ela afirma que momentos incríveis acontecem à nossa volta, mas acabam sendo perdidos pela falta de abertura e espontaneidade.

 

Ana observava algumas conversas entre sua irmã, Helena Petta, e alguns colegas de profissão que atuavam na linha de frente contra a Covid-19. A partir do compartilhamento das vivências deles, as irmãs perceberam que estavam diante de histórias extremamente interessantes, foi então que decidiram entrar em contato com profissionais da saúde que trabalhavam no SUS.

 

Ambas reconheceram que o descaso governamental com as estas mulheres, que arriscaram suas vidas diariamente diante de condições precárias de trabalho, precisava ser exposto e documentado. Assim, sem roteiro definido e muita pesquisa e estudos sobre o tema, gravaram entrevistas de maneira remota com elas, filmagens que acabaram sendo descartadas no processo de montagem e edição.

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As irmãs realizaram as gravações presenciais acompanhando 1 semana da vida diária de cada uma das personagens. Terminando esta etapa, iniciou-se o processo de edição. A diretora, e atriz da série "Unidade Básica", conta que foi neste processo que elas decidiram o direcionamento da obra, focando em uma abordagem mais sensorial, que transmitisse maior proximidade com as profissionais retratadas.

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CAReNCIA DE INFORMAcaO
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São poucos os materiais de estudo atuais focados nos documentários brasileiros. Um dos principais títulos do gênero é "Introdução ao Documentário", produzido por Bill Nichols, de 2001, que acaba não abordando as mudanças e transformações decorrentes dos anos de desenvolvimento deste tipo de produção, além das especificidades que englobam as produções brasileiras. 

 

Observando o déficit de um manual propriamente direcionado ao cinema documental, Piero Sbragia escreveu seu livro "Novas Fronteiras do Documentário: Entre a Factualidade e a Ficcionalidade". Ele explica sua inspiração advém da solicitação de seus alunos universitários.

 

Piero explica que os livros brasileiros, em sua grande maioria, dão foco aos documentaristas e personalidades do meio, mas não ao documentário em si. Visando criar um manual sobre os documentários, o escritor produziu uma análise sobre as produções de Cao Guimarães, com ênfase em seu filme "Andarilho", de 2007.

 

Além disso, Piero Sbragia, também apresenta 10 entrevistas com diferentes documentaristas, entre eles 5 homens e 5 mulheres, que abordam suas experiências, pensamentos e análises sobre o gênero e seu mercado.

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DOCUMENTaRIO E JORNALISMO
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O escritor, jornalista e especialista em Cinema Documentário, Piero Sbragia, divide sua visão sobre a relação existente entre o documentário e o jornalismo. O senso que interliga os dois advém da concepção de que ambos apresentam o objetivo de documentar acontecimentos e fornecerem narrativas factuais.

 

 Segundo Piero, a falsa ideia de que os documentários são produtos jornalísticos surge a partir da utilização da linguagem documental no jornalismo televisivo contemporâneo, popularizando o estilo junto às práticas jornalísticas, que o utilizam como ferramenta. Entretanto, o escritor reforça que os documentários são essencialmente gêneros cinematográficos, logo, não havendo nenhuma real ligação à profissão

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A partir da popularização e desenvolvimento das tecnologias, houve a democratização da produção de filmes, procedente do aumento de possibilidades e oportunidades de criação por mais pessoas.

 

Com isso, manifestou-se uma extensão da fórmula de requisitos que caracteriza um documentário. De acordo com o diretor e escritor, Piero Sbragia, as experimentações também se originam da integração de pessoas interessadas em filmes de ficção, atraídas pelo baixo valor requisitado para fazer documentários.

 

Piero adiciona que estes experimentos são benéficos para a ruptura das regras rígidas e restritas que padronizam os documentários, caracterizado pelos elementos das obras de Eduardo Coutinho.

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A popularização e desenvolvimento das tecnologias possibilitou a  democratização da produção de filmes

piero sbragia
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FACTUAL OU NaO-FACTUAL
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Além da amplitude da maneira de construção narrativa dos documentários, outra consequência das experimentação e da integração de gêneros é a mistura entre elementos factuais e não-factuais

 

Piero Sbragia acentua que os documentários possuem a missão de retratar a realidade, entretanto as produções atuais estão cada vez mais tendenciosas à cruzarem essa linha. O escritor explica que esta também se trata de estratégias estéticas, utilizando táticas da ficção, para tornar as obras mais atrativas ao público.

 

Exemplificando sua fala, Piero Sbragia, cita a série documental "Xuxa, o Documentário", lançada pela GloboPlay, em julho de 2023. O professor universitário descreve a cena de encontro entre Xuxa e Marlene Mattos como uma cena orquestrada para ser exibida. 

 

Este é configurado como um momento não-factual pela criação de um cenário propício a captura de comportamentos inorgânicos entre os personagens, como em um set de filmagens do gênero ficção.

 

Mesmo com a existência dessa dualidade, Piero Sbragia acredita que ambos conseguem coexistir em harmonia dentro das produções, sua única ressalva é que haja o compreendimento do público de que nem tudo é captado organicamente.

piero sbragia
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Complementando o tema, a diretora e atriz, Ana Petta, reforça a não existência de uma verdade única e pura. Ela acredita que a subjetividade das pessoas por trás das câmeras sempre se transfere às obras que produzem.

 

A diretora também evidencia a presença dos tipos de documentários que se apropriam de um viés artístico e poético, exibindo uma combinação de histórias factuais transmitidas por um estilo de narrativa dominado por aspectos ficcionais e por vezes abstratos.

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Ana petta
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DIFERENcAS NO PROCESSO DE PRODUcaO
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Abordando os aspectos que diferenciam os gêneros ficção e documentário, a diretora do documentário "Quando Falta o Ar" e atriz da série "Unidade Básica", Ana Petta, relata as diferenças nos processos de filmagens entre eles.

 

Com o final das gravações da terceira temporada da série, Ana pode atuar no papel de uma profissional de saúde do SUS durante a pandemia, o mesmo cenário retratado em seu documentário.

 

Comparando ambos, a diretora pontua a distinção entre a presença de personagens fictícios e pessoas reais, além da abertura para o imaginário na ficção, enquanto os documentários são presos à narrativas inexoráveis.

 

Entretanto, a principal diferença, de acordo com Ana, é o fator espontâneo e inesperado exclusivo dos documentários, contrapondo a natureza controlada e previamente planejada da ficção.

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ana petta
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Com suas transformações e novas abordagens surgindo, o futuro dos documentários se torna cada vez mais difícil de ser definido. A esperança de que o mercado brasileiro se desenvolva, aprimore, fortaleça e expanda é unânime entre todos que participam e apreciam a indústria audiovisual.

 

Questionado sobre suas previsões para o futuro do gênero, Piero Sbragia acredita que a produção de documentários seriados pode se tornar o novo foco do mercado. De acordo com o autor, essa seria uma teoria baseada na análise dos tipos de produções do gênero que os streamings, essenciais para a divulgação dos documentários, estão adicionando em seus catálogos.

A diretora, Ana Petta, participou do júri do festival É Tudo Verdade 2023. Com sua experiência, assistindo as novas produções brasileiras e internacionais, a diretora explica que a diversidade de estilos que presenciou durante o evento é o que permanecerá no mercado futuramente. 

 

Ana espera que a liberdade presente no fazer documentário, que advém de sua característica pouco comercial, possa perdurar, e assim como sua pluralidade de estilos e possibilidades.

TCC produzido por Maria Eduarda Esteves de Oliveira

Orientador: Anderson Gurgel Campos

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Curso de Jornalismo

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Plataforma utilizada: Wix

Texto: Maria Eduarda Esteves de Oliveira

Diagramação e arte: Raquel Paiva

Fotos creditadas

edição de vídeos: Maria Eduarda Esteves de Oliveira

Este Trabalho de Conclusão de Curso não reflete a opinião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Seu conteúdo e abordagem são de total responsabilidade de seu autor. ©2023 Por trás das Lentes. Todos os Direitos Reservados. Projeto acadêmico sem fins lucrativos.

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